sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Crítica do Salame


Como vocês sabem, a Perdigão fica no Coração do Brasil. E quem já viu a propaganda entende que é no Coração do Brasil que se faz a comida BOA de verdade. BOA mesmo, com todas as letras maiúsculas e salivantes.

O Coração do Brasil é um jardim cheio de pessoas felizes. Há velhinhos felizes sorrindo para a câmera, há crianças saracutiando alegremente, há um casal de namorados deitados na grama. A felicidade é tanta que imediatamente me remete a outra propaganda: a do Arroz Cristal e sua orgia de felicidade em forma de grãos.

Cá com meus botões, fico intrigado sobre como é possível produzir propagandas tão tocantes para vender salame. Por que, até onde eu me lembre, alimentos como salame, apresuntado e lingüiça nunca foram sinônimo de outra coisa senão gordura animal e problemas intestinais. Desculpem, marqueteiros, mas eu ainda não consegui absorver a idéia. Provavelmente em breve eu vou começar a sentir uma necessidade insuperável de comer toneladas de apresuntado para ser feliz. Mas ainda não.

A arte de vincular a imagem do seu produto a cenas de alegria e beleza é um dos pilares mais óbvios da publicidade. Goebbels sabia disso, os soviéticos sabiam também. Mas parece que a maioria das pessoas de hoje não se dá conta e acha tudo muito normal. Ou melhor: não acha nada. Observam outras coisas, percebem outras coisas, estão atentas a outros detalhes. Passa desapercebido, por exemplo, a tentativa de vincular salame à família. Ora, a menos que você seja um descendente legítimo de alguma família da Toscana, o salame não deve ter mais valor simbólico para você que o brócolis ou o torresmo. E é salame, minha gente, salame! Carne de vaca moída e fermentada, enfiada dentro de uma tripa. É tão desconfortável que, se você rever as propagandas da Perdigão, vai notar que o que menos aparece é o produto que ela está tentando vender.

Não que isso seja importante.Provavelmente não é. E nada contra a Perdigão em si, pobrezinha. Ela foi só um bode expiatório, um caso que eu considerei mais extremo. É algo que a gente nota em propaganda de refrigerante, supermercado, calcinha, sabonete, shampoo e o diabo a quatro. Se houvesse propagandas de drogas e bombas atômicas, com certeza a temática seria parecida. Um grande jardim com pessoas se divertindo, sorrindo para a câmera e injetando heroína. No Coração do Brasil, onde se inejta a droga PURA de verdade. Há que se pensar nessas coisas, principalmente nas épocas de natal. Não com desespero, como o Zé Mané que aqui escreve, mas com alguma ressalva. Afinal, se somos assim tão espertos para saber que tudo não passa de marketing, o que exatamente estamos fazendo pela nossa felicidade? Em que mesmo a estamos procurando?

2 comentários:

  1. Detonou zé!
    sugiro inclusive que esse seja o primeiro de alguns posts sobre "críticas" construtivas (é logico) a respeito das propagandas em Goiás.
    - Star chique: o guru da propaganda goiana. Como ele influenciou e sobreviveu à concorrência nas últimas duas décadas.
    - Garoto(s) casas bahia: saiba como nasceu a prática do grito e porque ela é utilizada até hoje
    -O gerente pirou de vez/promoção que até Papai Noel vai aproveitar!!!(esses cliches já constam nos livros de Introdução à Publicidade?

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  2. Eu me alegro comendo porcarias de madrugada. Sei lá ze, essas táticas da publicidade funcionam, é por isso que não mudam.
    ...

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pode falar, eu não estou ouvindo