quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Jesus Negão ou a crueldade de que somos capazes




Confesso sentir pena de Barack Obama. De tudo que podemos ser ou almejamos alcançar no universo, a última coisa que eu sonharia para mim era ser presidente dos EUA. Um país que criou ilusões como Madona e Michael Jackson, um país que vem ao longo dos anos contando sempre (e sempre e sempre) o mesmo enredo nos cinemas e nos livros, um país de cujo consumismo dos cidadãos depende o modelo econômico mundial. Não sei vocês, mas eu sou acometido por grande comiseração.

Madona é o exemplo cabal de como os norte-americanos e nós, por submissão cultural, somos capazes de criar deuses de mentirinha. Depositamos neles todos os nossos sonhos e expectativas, como se fossem eles, e não nós, os principais interessados e responsáveis. Obama é o exemplo óbvio de como os norte-americanos e nós, por submissão midiática, adoramos inventar novos jesus cristos. Um homem que, sozinho, irá demonstrar um poder sobre-humano para nos salvar e resolver os nossos problemas e os problemas dos nossos semelhantes. O fato é que somos muito cruéis. Toda vez que uma matéria de jornal é feita sobre Barack Obama, estamos dando uma chibatada no lombo do nosso Jesus negão. Cada segundo de transmissão ao vivo da cerimônia de posse do presidente é um segundo de tortura, cada comentário abalizado de algum comentarista da Globo ou da Veja ou do New York Times é uma sentença de execução.

E Obama discursa para o mundo, seguindo os protocolos, com seu sorriso plástico de ator hollywoodiano. Da mesma maneira que Madona se contorce com seu corpo de plástico para a platéia embasbacada. Da mesma maneira que a Mulher Barbada puxa suas barbas verdadeiras para o público do circo de horrores. Da mesma maneira que o Jesus mítico geme de dor na cruz para que todos assistam. Em comum, todos têm a bizarrice de suas supostas diferenças: o negro que chegou lá, a velhinha com corpo de jovem, a barba, o dom messiânico. Cinqüenta por cento de nossa atenção está nessa bizarrice, nessa suposta diferença, que nos faz interessados como a platéia de um circo de horrores. Em comum, todos têm o lugar cativo na imaginação e na esperança pueril: o salvador da economia e da grande nação, a apoteose da juventude física, a fantasia de criaturas desconhecidas, o filho de Deus. Cinqüenta por cento de nossa atenção está nessa expectativa: a terrível, cruel e insensata esperança de que outra pessoa possa pagar por nós os nossos pecados.


Diante das dúvidas, dêem só uma checada:


http://www.puma08.com/2009/01/20/in-kenya-barack-obama-is-jesus/

3 comentários:

  1. Gostei: Muito bem observado o lance de olharmos metade para os feitos e metade para a "bizarrice" da situação, de estarmos celebrando e ao mesmo tempo consolando os grandes e estranhos, como as vovós saradas. Com isso tormamos eles.. menores. É o filho de Deus que matamos e depois glorificamos por temos matado, é a nossa redenção coletiva. Falsa e midiatica. E jogar tudo nas costas do Obama( da solução pros conflitos do oriente medio a nossa salvação espiritual) definitivamente não é bom.

    Não gostei: Do ranço antiestadosunidense do texto, o cinema deles é mais do que os blockbosters da vida e o potencial artistico e humano deles é de fazer inveja. Achei generalizante demais, é como falar que a capacidade criativa do brasileiro se resume a novelas da globo e que somos o povo que criou ilusões como Daniel e Vera Fischer.
    Bom resumindo, independente da visão sobre os Eua, o fenomeno Obama é algo mais complexo, sei lá.

    Aquele abraço.

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  2. AINDA BEM que seu post é do dia 22 e o meu é do dia 21. Assim posso dizer que você copiou a minha pena do Obama e não poderás me acusar do contrário. Huhauhuahuha!
    Pelomenos alguém concorda comigo que o coitado do Hussein está bem f*errado com essa fardo gigante.

    Sodade!!!!!!
    =***

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  3. Sim, provavelmente por isso e

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pode falar, eu não estou ouvindo