terça-feira, 11 de agosto de 2009

A novela


Entro na sala e saco uma revista de moda. Não há outras possibilidades. Quero dizer, há: duas dezenas de Caras. Por isso me agarro firme à Marie Claire. Fico me perguntando como as mulheres suportam viver num mundo em que revistas femininas são ilustradas com mulheres semi-nuas e não com homens semi-nus.

Há na sala uma moça repicando o cabelo e falando mais que o primo do diabo. A outra, de cócoras em frente aos pés de uma cliente, pinta unhas de vermelho como um índio que ministra um exorcismo. Conversam:

- Pois é, Margarete, você viu na novela ontem? Saiu até no jornal que os indianos casam animais para chamar a chuva.
- Are baba! Que povo mais engraçado!
- Como é que podem acreditar nessas coisas?

E depois a conversa mudou de foco para a situação romântica da novela, que eu não acompanho. E finalmente terminou com a mocinha do cabelo repicado insistindo na sua vontade de realizar o ritual de mutilar, recortar e abrir os próprios seios para inserir neles derivados de petróleo sinteticamente modificados e só assim ser feliz na vida.

6 comentários:

  1. E então percebemos que o grande ganho da tal globalização é a possibilidade de, a partir do absurdo alheio, questionar o nosso. E que as vacas lhe abençõem, amém!

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  2. conversas de salão são sempre assim: inacreditáveis.

    ;*

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  3. Agora eu me pergunto: por que você estava no salão de beleza e não no barbeiro? É uma fruta mesmo.

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  4. Nunca li melhor descrição para "colocar silicone". Adorei.
    Thallyta

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  5. É só num salão de beleza que você nota como as mulheres dizem coisas absurdas. Mas aí é ir numa barbearia pra notar que ainda estamos ganhando, fácil.

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pode falar, eu não estou ouvindo