quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

É preciso falar contra



Como não poderíamos deixar de perceber, as igrejas protestantes adotam uma postura bastante incisiva em Goiânia e no Brasil. Elas souberam adaptar com sucesso técnicas de publicidade e marketing à pregação religiosa, organizaram suas unidades segundo regras de mercado e criaram uma ideologia agressiva de divulgação e auto-promoção. Os resultados têm sido muito satisfatórios, se considerarmos o crescimento dos praticantes e sua ascensão cada vez mais significativa às esferas de poder político e financeiro.

Os evangélicos têm muito orgulho de se considerarem como tais e se empenham em defender seu ponto de vista. As grandes massas de crentes se deixam organizar e liderar pelas mentes pensantes por trás do crescimento das igrejas, ganhando força e precisão em suas ações. Por isso crescem. Por isso alcançam o poder. Por outro lado, aqueles que criticam o protestantismo moderno são, em sua maioria, desorganizados, desmotivados e passivos. Quase sempre morrem de medo de parecer intolerantes ou de ferir as sagradas leis democráticas de liberdade de culto e expressão. Enquanto isso, os evangélicos fazem ótimo uso dessas mesmas leis, bradando e empunhando suas bandeiras.

Pois bem, é preciso falar contra. Tolerar não é concordar. A democracia nos dá a liberdade de defender nossas idéias e de, inclusive, atacar as idéias das quais discordamos. Não é apedrejando ou queimando pessoas que se chega a algum lugar, tampouco é apenas resmungando diante de igrejas de fundo de quintal que abusam do gritaria ou sendo sadicamente descortês com testemunhas de Jeová aos domingos. É preciso se posicionar contra e argumentar.

Eu sou contra o protestantismo. Já não quero mais cair na desculpa cíclica de que todos são livres para escolher a religião que quiserem e que é preciso tolerar e que, pelo menos, essas pessoas estão aceitando Jesus no coração e etc. Sou tão livre quanto qualquer um e por isso digo: não acho certo, acho inclusive perigoso, não concordo com as religiões e não acredito em Jesus Cristo. Sou contra o protestantismo por que ele tem demonstrado uma linha de ação e pensamento que flerta tanto com correntes fundamentalistas quanto com movimentos fascistas. A forma como as mentes pensantes desses grupos manipulam e dominam as massas é irresponsável e criminosa. Estão plantando problemas sérios para um futuro próximo.

Sou contra o protestantismo por que experimento, no meu dia-a-dia, a falibilidade de sua doutrina. Fosse especulação desprovida de base, eu não estaria dizendo. Mas todos os dias, em todos os cantos, eu presencio pessoas que defendem uma coisa e fazem outra; que se embrulham de valores postiços e continuam tão erradas quanto antes. Pessoas que, por falta de algo melhor em que se apoiar, castigam sua inteligência e sua sensibilidade acreditando em argumentos fantasiosos e fajutos. Pessoas que são convidadas a fugir da realidade e a aceitar uma série de imposições sem consistência nem comprovação.

Sou contra o protestantismo por que ele está nos encaminhando por uma senda que já foi usada – por um caminho que já foi percorrido. O caminho da Fé tem sido trilhado há dois mil anos no Ocidente. Essa tal Fé, que se apregoa uma virtude espiritual do ser humano, sempre se vinculou perfeitamente a interesses muito materiais: A Fé justificou a Idade Média, a Inquisição, as Cruzadas, a escravidão negra, o massacre dos índios e etc. Todos os homens que participaram desses episódios tristes da nossa História tinham três coisas em comum com os evangélicos de hoje: uma bíblia debaixo do braço, a certeza de que estavam certos e uma dificuldade tremenda em diferenciar o que realmente é espiritual do que é material.

Sou contra o protestantismo por que vivemos numa sociedade de massa em um momento delicado da História Humana. A massa precisa de conhecimento e não de cabresto. Aqueles que pensam dentro do protestantismo precisam retomar o juízo, precisam ser mais conscientes da seriedade dos seus atos. É necessário aprender com nossos erros passados. Que as guerras e regimes terríveis pelos quais passamos nos leguem mais do que filmes de Hollywood e best-sellers. Quantos exemplos não temos de que privar a massa do conhecimento e manipulá-la em nome de ideologias, crenças ou doutrinas, só causa problemas? Será preciso mais 2 mil anos de guerras, intolerância e estupidez para entender que livros sagrados vêm e vão, assim como os deuses? Estamos em um limiar histórico: ou nos empenhamos na difícil tarefa de retirar os homens da condição de massa ou permaneceremos todos a mercê de grandes quantidades de seres humanos totalmente inconscientes e sem rumo.

Enfim, sou contra o protestantismo por que ele é a repetição moderna de um erro muito antigo.

9 comentários:

  1. Uma salva de palmas, meu caro.
    É preciso falar contra!

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  2. Bravo! É preciso falar e fazer contra.

    Esse seu texto ficaria cute no prólogo de uma nova versão dO Nome da Rosa.

    P.S.: Mas assim, lá no inferno, 'cê deixa eu sentar na sua mesa na hora do recreio?

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  3. Espero até o final do dia as primeiras manifestações da turba enfurecida com as tochas pedindo sangue. Ah, e quanto ao inferno pra onde vocês (e possivelmente eu, se algumas piadas não forem dedutíveis do imposto divino) irão, saibam que ele influencia diretamente no aquecimento global segundo o Pastor Malafaia. (True story, aqui o link : http://www.igrejainternacional.com/artigos/aquecimento-global-a-farsa-ateista/)

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  4. refleti tanto sobre ultimamente....
    compreendo beeeeem o seu texto agora... hehehe
    aaaaaaah mas não quero comentar mais aqui, quero conversar ;)

    texto óóóóótimo!
    =****

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  5. Esse seu texto gera uma boa conversa, e vou deixar meus comentários para ela. Entretanto, o link que o João Júnior passou me deixou boba! Como pode alguém escrever tanta asneira? A pergunta é: esse pastor realmente acredita no bla bla bla que escreveu?
    Deprimente.

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  6. Muito bem escrito e argumentado, mas não deixo de repetir: entendo que não é com essa postura que irá surgir uma mudança.

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  7. ótimo texto. como ha tempos n via com tal cunho.
    =D

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pode falar, eu não estou ouvindo