quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

prelúdio para entardecer



quem sabe nessa tarde
as louças das casas de família
trinquem com o sensabor
dos dedos das moças de família


quem sabe nessa tarde
algum cigarro esquecido
toque fogo e torne em cinzas
todas as obras de arte
todas as críticas de cinema
e todos os poetas malditos


e nessa tarde quem sabe
uma passeata do mudos
reivindique a musicalidade
que há em dedos e cotovelos
em batentes de porta e azulejos

e nessa tarde quem sabe
as balas perdidas acertem
a cabeça de várias estátuas
e os políticos que vociferam
nas fotos de jornal das bancas


quem sabe nessa tarde
algum planeta vizinho
espie da janela do banheiro
a nudez da terra em seu degelo

quem sabe nessa tarde
eu possa abraçar meus amigos
e amar, ainda que sem jeito
a vida que anoitece
em meus cílios.

4 comentários:

  1. O que seria a vida que anoitece, Zé!? O próprio tempo?

    Muito bom! "Quem sabe" vc vira "só" poeta?

    ResponderExcluir
  2. Boa, muito boa.

    (cara, você usa a palavra "sensabor", isso é chocante)

    ResponderExcluir
  3. Legal. Boa perspectiva. Ótimo desenrolar de idéias.
    Já vi alguns posts daqui. Mto bons, aliás.
    Vou linkar vc no meu blog. blz?
    a gente se fala.
    Abraço!
    penanegra.wordpress.com

    ResponderExcluir
  4. Peraí, nenhum comentário sobre a foto? Não acredito. Tá uma gracinha, Zé. Com carinha de irmão mais novo que a gente pega pela mão e leva pra tomar sorvete.

    ResponderExcluir

pode falar, eu não estou ouvindo