segunda-feira, 26 de abril de 2010

ainda sobre a comunicação cotidiana


Características dos discursos não comunicativos ( em nível gradativo)

1) Menosprezo do interlocutor

Eu sinto que muitas vezes as pessoas têm medo de que o outro não entenda o que elas querem dizer. Nos casos benignos, elas são inseguras e não confiam em sua própria argumentação. Nos casos malignos, elas se acham muito acima do resto do universo e, por isso, incompreensíveis para a gentalha. Em ambos os casos, podemos identificar os seguintes maneirismos:

Redundância:

Ex: Chefe explicando projeto novo – “ Então, a gente tem que aumentar o material publicitário para evento, por que é importante que, quando estivermos no evento, não nos falte nada, não é? Imagina você lá e não ter um banner pra entregar, um outdoor pra mostrar. Terrível não? Chega o cliente e você não tem o que oferecer... aí o que ele vai achar? Que a gente não tem material... então vamos ficar com cara de tacho, por que o mínimo que temos que ter é material publicitário... por que então oferecemos um bannerzinho, a pessoa lê o banner e sabe do que se trata, por que se ela não sabe, então como ela vai saber? Daí se faltar o material, ela vai ficar sem saber quem somos. Por que falta material....

Repetição:

Ex: Piadas de chefe

- ahaha, aí, aahhaha, aí a loira chegou e disse: um extintor de incêndio! Ahahah

- ahahah.boa, chefe.

- Um extintor de incêndio, entende? Ahahah, ela chega e diz: um extintor de incêndio!

- É , um extintor, ahahah

- A loira chega assim, na sala, e diz: um ahahaha, um extintor de incêndio! Ahahaha

- ahahaah.

- você não entendeu. Vou ahahaah contar de novo: chega a loira e...

2) Tentativas inconscientes de manipulação do interlocutor

Não quero entrar aqui nas tentativas conscientes, que abarcam salafrários, mentirosos, pastores evangélicos, gente que quer enganar os outros. Falo dos mecanismos que nossa vaidade ou outra característica nos leva a utilizar para que o interlocutor reaja como esperamos. Essa situação está um grau acima da anterior, por que já começa a tornar o indivíduo surdo ao outro. Nesse primeiro caso, um surdo seletivo.

Surdez seletiva

Ex: conversa com a tia dondoca

- Queridinho, você não sabe o que estou fazendo: pilates.

- É mesmo tia? E é bom?

- Ah, é ótimo! Não está vendo o quanto estou mais bonitona?

- Está mesmo!

- Obrigada! Agora, seu tio fica dizendo que eu gasto dinheiro demais com essas coisas, que é muita dívida pra família, que não somos ricos.

- Bem tia, pilates é algo caro, certo?

- Seu tio nem sabe do que está falando. Eu quase não gasto nada e uma mulher precisa ter alguns mimos. Ora, se ele quisesse miséria, casasse com um orangotango.

- Quanto custa a mensalidade de pilates?

- Depois, eu acho também que ele prefere assim, sabe? Ou vai dizer que vocês homens preferem uma mulher toda molenga, toda caindo aos pedaços? Ah, não mesmo!

3) Ignorar completamente o interlocutor

Bom, acho que dá pra entender logo de cara. Muitas vezes incorremos no erro de monologar com testemunhas. Há certas pessoas que fazem disso um hábito, de modo tão intenso que poderiam dizer a mesma coisa para qualquer pessoa, em qualquer situação. Noto que isso acontece quando o indivíduo possui uma intenção ou um pensamento muito forte dentro de si, gritando tão alto lá dentro que o impede de ouvir todo o resto.

Ex: garota intelectual de pocket book em encontro

- Vem cá, você ouve isso?

- Isso o que?

- Go go dolls ?

- Uai, tem umas músicas interessantes

- Logo você, jornalista engajado, inteligente. Você não tem vergonha não?

- Pior que não.

- Não vai me dizer que você é do tipinho eclético...

- Não me acho.

- Gente eclética é gente preguiçosa, na minha opinião. Já viu aquela definição do Truman Capote sobre isso? Ele fala que gente eclética e igual... como é mesmo que ele fala, nossa, li ontem e não estou lembrando...você já leu capote?

- Não não.

- Muito bom. O cara tinha uma verve terrível, uma ironia fina contra a sociedadezinha estado-unidense. Muito foda. Já leu a Sangue frio?

- Eu não li nada dele não.

- Aquela parte que ele descreve o cotidiano da família vítima do assassinato, você percebe a sutileza? Percebe como ele mergulha naquele ambiente aparentemente normal?

- Você está com uma couve nos dentes.

- Acho bárbaro o jeito certeiro de alguns escritores. Tem um outro, o que diz assim: toda juventude é uma decepção... Como é mesmo o nome. Ai droga, minha memória anda muito fraca pra essas coisas. Mas você precisa ler.

- Acho que você transa com cabritos albaneses

- E, claro, esquecer essas bandinhas bregas que você ouve. Nossa, vou apagar as músicas do seu pen drive...

4 comentários:

  1. Só pra manter a tradição: Oi, Leila Lopes.

    ResponderExcluir
  2. "Acho que você transa com cabritos albaneses". São frases como essa que marcam um bom encontro.

    ResponderExcluir
  3. Acho que você fez um filme pornô. Aparentemente bom...

    ResponderExcluir
  4. eu sofro dos dois casos,mas sou um pouco mais sutil que isso ahsuahsuahss.

    ResponderExcluir

pode falar, eu não estou ouvindo