Saciedade

em resposta ao victor

Mas afinal, de quantos quereres pode ser o seu querer? Esse que não sacia senão às mancheias da imaginação.Como dizê-lo em um só, para poder anotá-lo num livro, num verbete em itálico de poucas linhas? Eu quero a vida, eu quero a morte, eu quero deus, eu quero grana. Eu quero uma garota, eu quero todas as garotas. Eu quero, pois afinal, o que é um homem que nada quer? Um que passe pela vida e responda: “não, obrigado. Estou só dando uma olhada”.

Quantos quereres há no mundo, mas quantos realmente são verdadeiros? Quantos poderão desafiar o tempo, vencer seu teste, e manter-se ali, incrustado em nós, ao longo da vida? E quantos apenas passarão. Tanto quis algo que hoje nem importa. E trago tão desleixado tudo o que antes me era caro. Por que o querer desaparece depois de conquistado? Aí parece estar o segredo; tudo que é finito é ilusório. Só existe o que é infinito. E se assim se entende, ou se assim se aceita, percebe-se: há aqui apenas um querer. O maior desejo de todos, aquele que não se sacia, é o de um dia se sentar à sombra de si mesmo, com as mãos vazias sobre o peito e poder dizer: pronto, estou satisfeito.