Quinze de agosto

Fiquei velho, não cresci. Vinte pequenas tias e mil pequenos primos derramam guaraná na varanda, entre balões; e eu fui embora sem saber. Para mim, essa ainda era minha cama, e esse ainda era meu quarto – às vezes tenho a impressão de nunca estar em lugar nenhum. Por capricho, ficarei velho até morrer. Se alguma vez voei, nunca mais desci. Se peguei o trem errado, pelo menos era a hora certa; e ainda estou chegando. Apostei no cavalo manco, torci pelo time dos casados, fiz a arriscadíssima jogada do tzar Valentino, com o bispo na quinta casa e a rainha dormindo com o dois peões na torre. Hoje em dia, na verdade, ninguém mais morre de velhice. Ninguém mais tem tempo para gastar a vida até o fim. E há, pelo menos, uma vantagem em ser pequeno: é mais fácil desaparecer. Nunca tive que pensar num plano de fuga, nunca quis fazer uma lista básica de precisão. Mas fui embora sem saber, e agora, vejam o que esqueci: meu violão.