Há alguns anos, li o nome hurritas
num desses livros áridos de biblioteca. Deles se dizia quase nada; um povo
antigo da mesopotâmia como tantos outros cujos nomes curiosos hoje só são ditos
em voz alta nas aulas de História do ensino médio ou na boca de estudiosos da
Bíblia. E os hurritas teriam
garantido honrosamente seu lugar na prateleira mais escondida da salinha mais
esquecida da ala de “assuntos irrelevantes” da minha mente, não fosse uma única
informação: pertence a esse povo o registro mais antigo já encontrado de uma
canção.
Eles a escreveram na pedra e em tábuas de argila, não sei com
que tipo de notação ou símbolos. Também desconheço como seria possível
reproduzir tal canção nos dias de hoje. Sei apenas que a idéia me fascinou; a
sensação curiosa de imaginar um povo que legou ao futuro blocos de pedra que
cantam. Tábuas de argila riscada, letras cuneiformes e mortas, mas que, se
traduzidas, produzem uma melodia. Hoje gravamos qualquer coisa em qualquer
lugar – músicas, textos, imagens – é algo que se tornou ordinário - e por isso
talvez seja difícil parar um instante para pensar o quão incrível é a
capacidade de apreender as vibrações do som, o movimento do vento, a música,
num bloco de pedra e legá-lo para aqueles que virão depois de nós.
Fiquei muito feliz ao descobrir que há registros de
reproduções dessa canção hurrita no youtube. Afinal, apesar dos telós e luizas,
a internet nunca deixou de ser esse reservatório infinito de material
interessante e que, de outro modo, nunca estaria disponível para rapazes
latino-americanos, sem dinheiro no banco nem parentes importantes, e vindos de
Goiás, como eu.
a internet é um buraco negro: encontra-se tudo nela, até um blog super interessante de um amigo desaparecido.
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