sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A canção mais antiga do mundo




Há alguns anos, li o nome hurritas num desses livros áridos de biblioteca. Deles se dizia quase nada; um povo antigo da mesopotâmia como tantos outros cujos nomes curiosos hoje só são ditos em voz alta nas aulas de História do ensino médio ou na boca de estudiosos da Bíblia. E os hurritas teriam garantido honrosamente seu lugar na prateleira mais escondida da salinha mais esquecida da ala de “assuntos irrelevantes” da minha mente, não fosse uma única informação: pertence a esse povo o registro mais antigo já encontrado de uma canção.

Eles a escreveram na pedra e em tábuas de argila, não sei com que tipo de notação ou símbolos. Também desconheço como seria possível reproduzir tal canção nos dias de hoje. Sei apenas que a idéia me fascinou; a sensação curiosa de imaginar um povo que legou ao futuro blocos de pedra que cantam. Tábuas de argila riscada, letras cuneiformes e mortas, mas que, se traduzidas, produzem uma melodia. Hoje gravamos qualquer coisa em qualquer lugar – músicas, textos, imagens – é algo que se tornou ordinário - e por isso talvez seja difícil parar um instante para pensar o quão incrível é a capacidade de apreender as vibrações do som, o movimento do vento, a música, num bloco de pedra e legá-lo para aqueles que virão depois de nós.

Fiquei muito feliz ao descobrir que há registros de reproduções dessa canção hurrita no youtube. Afinal, apesar dos telós e luizas, a internet nunca deixou de ser esse reservatório infinito de material interessante e que, de outro modo, nunca estaria disponível para rapazes latino-americanos, sem dinheiro no banco nem parentes importantes, e vindos de Goiás, como eu. 

Um comentário:

  1. a internet é um buraco negro: encontra-se tudo nela, até um blog super interessante de um amigo desaparecido.

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pode falar, eu não estou ouvindo