Tanto a cultura greco-romana quanto a judaico-cristã, que
foram as nossas mães culturais, adoravam a idéia de prever o futuro. Os gregos
construíram seus oráculos, e muitos de seus mitos tinham por base a luta contra
um destino revelado e inalterável: Cronos, Édipo, Aquiles, nenhum herói grego
saía de casa sem a previsãozinha nossa de cada dia.
Enquanto isso, no deserto do Velho Testamento, profetas
barbudos anunciavam a vinda do messias ou o fim do mundo, a depender do gosto
do freguês. Os livros sagrados estão repletos de profecias, versões religiosas
das previsões do futuro. O exemplo mais famoso é o Apocalipse de João, que
tanto eu quanto Nostradamus concordaríamos como sendo o momento mais psicodélico Pink Floyd dos últimos dois
mil anos.
Hoje, quem prevê nosso futuro são as propagandas de gadgets e
os jornalistas super antenadinhos. E claro, o cinema. Temos a turma que acha
que o futuro será uma festa, e que Jesus voltará com 2 milimetros de espessura
e tela touch screen total; e temos a
turma do fim do mundo, do amanhã cinzento dominado por robôs psicóticos.
Mas o
curioso é que a ligação, agora óbvia, entre futuro e tecnologia não parece ter sido sempre assim tão
evidente. O porvir previsto por gregos e judeus era muito parecido com suas
próprias épocas: tinha cavalos, espadas e deuses flamejantes. É provável que,
se perguntado sobre o futuro, um camponês medieval não pensaria em pessoas
conectadas por máquinas ou telas finas e brilhantes, e não por incapacidade de
imaginar tais coisas, mas porque para ele talvez não fizesse sentido a idéia de
um futuro tecnicamente mais desenvolvido que o presente.
Foi a ciência e a ficção científica que nos inculcaram a
projeção desse desenvolvimento linear e crescente. E a lei de mercado incluiu
na equação a nossa necessidade de sempre ter algo melhor, mais rápido, menor,
etc. O que me faz pensar em como a nossa visão de futuro está ligada aos
conceitos presentes, ao que vivemos e desejamos agora.
O cinema nos mostra isso
com muita clareza: criamos mundos tecnicamente avançados e socialmente retrógrados.
Imaginamos pessoas que cruzam o espaço,
que não têm doenças, mas que vivem sob ditaduras réplicas do império romano, e
ainda resolvem seus problemas na base da porrada, com a diferença de que os
sabres são de luz.
Ou seja, o futuro previsto é um reflexo dos problemas e
questões do nosso presente e dificilmente foge disso. É muito mais fácil imaginar
como serão os carros do futuro do que como serão os pensamentos e os desejos,
porque vivemos num mundo totalmente absorvido por carros e completamente
ignorante quanto aos pensamentos e desejos.
Talves existam bons exemplos da chamada ficção cientifica leve que foque mais no desenvolvimento do ser do que no das máquinas, como 1084, Admiravel mundo novo, A Fundação, e alguns contos de Isaac Asimov, Philip K. Dick e etc, etc e mais etc, mas ninguém se importa muito.
ResponderExcluirAs pessoas gostam mais de falar de carros do que de comportamentos, de politica barata que de formas de relações humanas, o que reflete o gosto nos filmes e nas nossas previsões. Os judeus previam o messias e a terra santa, os maias se preocupavam com o fim das eras e revoluções celestes, nós nos importamos com tvs gigantes e carros que voam.
Não querendo ser pessimista Zé, mas acho que é mais fácil imaginar coisas que pensamentos porque as pessoas pensam cada vez menos.
ResponderExcluirPrecisamos falar sobre isso pessoalmente.
ResponderExcluirPor ser o pensamento um produto do ato de pensar, torna-se tão complexo como o ato que o originou. Sendo assim,viver num mundo conteporâneo que nos fornece tudo mascado e digerido, pensar não é mais uma necessidade, mas uma afronta aos novos costumes. Então para quê correr o risco de sentir o seu cérebro escorrer pelo orifício de sua orelha porque você o usou muito? Se por um lado a tecnologia facilita nosso dia-a-dia, por outro, atrofia o cérebro dessa nova geração. E pelo andar da carruagem, será fácil imaginar não só como serão os carros no futuro, mas os pensamentos também, pois estes não existirão. Não é preciso pensar quando se tem ''alguém'' que faça isso por você.
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