quarta-feira, 14 de março de 2012

Cow Parade



Eu ouvia dizer da cow parade bem por alto, com informações esparsas aqui e ali nos jornais ou na internet. Nada que me fascinasse ou incomodasse, ou que incitasse a uma segunda leitura – ora, vacas nas ruas, grande coisa, isso já existe em Goiânia há décadas. Para mim, soava com um assunto insosso, uma dessas bobeiras inofensivas que hoje têm a importante função de dar algum significado à palavra cultura e manter ocupadas pessoas de óculos engraçados e bigode retrô.
Então essa manhã, andando pela cidade, topei com várias das tais vaquinhas. Havia uma perto da rádio universitária, outra na Goiás com a Quatro, e uma amarelo-flor na Tocantins. E muito me interessou o fato de  que as pessoas realmente paravam para olhá-las. Pessoas de todo o tipo - donas-de-casa, estudantes, comerciantes, mendigos – todos demoravam um minuto ou dois para observar as vaquinhas. Depois iam embora sorrindo, ou xingando, ou cuspindo, não importa. O que importa é que as obras não foram engolidas pela  tal indiferença urbana. 
Deixo a discussão da arte ou não-arte de vacas pintadas para pessoas de bigode retrô e maior capacidade.A cow parade me fez refletir sobre como existe pouco esforço para explorar outras possibilidades de uma cidade. A gente vive na cidade, mas é como se a considerássemos um obstáculo entre onde estamos e onde queremos chegar – ela é aquilo que temos que enfrentar, o espaço caótico e estranho entre a casa, o trabalho, o bar, a universidade. Na melhor das hipóteses, consideramos a cidade como um cenário de fundo, uma praça verde na janela do carro. Esperamos que ela seja funcional, prática, neutra, esquecível. Como uma prostituta. Até que, despretensiosamente, uma vaquinha amarela na esquina da avenida me recordar que, poxa vida, eu vivo aqui. Eu moro nessa cidade! E ninguém nunca me perguntou se eu gostaria que a pintassem toda de cinza!  

4 comentários:

  1. Fiquei morrendo de vontade de ver aí ao vivo!

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  2. hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha. tive que rir muito agora.

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  3. Quanto a cidade, não a vejo como um obstáculo entre os caminhos que tenho que percorrer diariamente. Para ser sincera, me divirto muito por esses caminhos.
    Quanto as vaquinhas, nunca topei com nenhuma, mesmo morando no centro.
    Quanto a minha opinião sobre a cor da cidade só posso dizer uma coisa: gosto dela assim, cheia de cores, como as vacas.

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pode falar, eu não estou ouvindo